A promessa de Deus ante o cuspe do soldado
O que teria acontecido à Fera se a Bela não tivesse aparecido? Você conhece a história. Houve um tempo em que seu rosto era bonito e seu palácio agradável. Mas isto foi antes da maldição, antes das trevas caírem sobre o castelo do príncipe. E, quando a escuridão tomou conta, ele sucumbiu. Recluso em seu castelo, rebelde, com um focinho reluzente e grandes caninos. Porém tudo mudou quando a mocinha chegou. Fico pensando, o que teria acontecido à Fera caso a Bela não tivesse aparecido? Melhor ainda, o que teria acontecido caso ela não tivesse se importado? Quem a teria culpado? Ele era tão... digamos, animalesco! Pêlos longos. Babão. Frustrado. E ela tão bela. Estonteante. Uma bondade contagiante. Se duas pessoas se encaixassem exatamente nesta descrição, não seriam elas exatamente a Bela e a Fera? Quem a teria culpado caso ela não tivesse se importado? Mas ela se importou. E, porque a Bela amou a Fera, A Fera tornou-se linda.
A história é familiar, não apenas por tratar-se de um conto de fadas. É familiar porque nos faz lembrar de nós mesmos. Há uma fera dentro de cada um de nós. Mas não foi sempre assim. Houve um tempo em que a face da humanidade era bela e o palácio agradável. Mas isto foi antes da maldição, antes das trevas caírem sobre o jardim de Adão. E, desde a maldição, temos sido diferentes. Animalescos. Feios. Rebeldes. Ferozes. Fazemos coisas que sabemos que não deveríamos ter feito e ficamos pensando por que as fizemos.
Minha parte feia certamente mostrou sua face animalesca certa noite. Eu estava dirigindo em uma pista dupla, que viria a tornar-se única. A mulher no carro ao lado do meu estava na pista que continuava. Eu estava na que terminava. Eu precisava estar à frente dela. Meus compromissos eram, sem dúvida, mais importantes que os dela. Além do mais, não sou eu importante? Não sou eu o mensageiro da compaixão. Um embaixador da paz? Assim, acelerei o carro. Adivinhe? Ela também. Quando minha pista terminou, ela estava um centímetro à minha frente. Aumentei os faróis, reduzi a velocidade e a deixei passar. Sobre seus ombros ela me acenou com um tchauzinho. Grrr. Comecei a diminuir os faróis. Então fiz uma pausa. Minha parte sinistra disse: “Espera ai.” Não fui chamado para ser luz nos lugares mais escuros? Iluminar as trevas? Então coloquei um pouco mais de luz em seu retrovisor. Só para importunar. Ela diminuiu a velocidade, em retaliação. Esta mulher era má. Para ela pouco importava se toda a cidade de San Antonio estivesse atrasada; ela não iria ultrapassar a marca dos vinte e cinco quilômetros por hora. E eu não iria tirar o farol alto do seu espelho retrovisor. Como dois burros teimosos, ela continuava devagar e eu continuava com a luz alta. Após mais pensamentos cruéis do que ouso confessar, a pista começou a alargar, então iniciei a ultrapassagem. Sabe o que aconteceu? O farol vermelho nos deixou lado a lado em um cruzamento. O que se segue contém boas e más notícias. A boa notícia é que ela acenou para mim. A má notícia é que não foi o tipo de gesto digno de imitação.
Algum tempo depois o pensamento me veio à tona: “Porque eu fiz isto?” Sou um cara tipicamente calmo, mas durante quinze minutos fui uma fera! Apenas dois fatos me confortaram: Primeiro, não tenho adesivo evangélico em meu carro, e segundo, o apóstolo Paulo passou por lutas similares. “Porque o que faço não aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço” (Rm 7.15). Você já se sentiu nesta situação? Em caso afirmativo, temos algo em comum. Paulo não é a única pessoa na Bíblia que travou uma luta com o lado animalesco interior. É raro encontrar uma página nas Escrituras em que um animal não mostre seus dentes. O rei Saul perseguiu o jovem Davi com sua lança. Siquém violentou Diná. Os irmãos de Diná (os filhos de Jacó) mataram Siquém e seus amigos. Ló negociou com Sodoma, depois saiu de lá. Herodes matou os primogênitos em Belém. Outro Herodes assassinou o primo de Jesus. Se a Bíblia é chamada de Bom livro, não é pelos seus personagens. O sangue corre livremente através das histórias como a tinta através das penas que as escreveram. Mas o lado mau da fera nunca esteve tão aflorado como no dia da morte de Cristo.
A princípio, os discípulos ficaram anestesiados, depois rapidamente fugiram.
Herodes queria um show. Pilatos queria livrar-se do problema. E os soldados? Eles queriam sangue.
Então açoitaram a Jesus. O chicote legendário consistia em tiras de couro com bolas de ferro em suas pontas. Seu objetivo era singular. Bater no acusado progressivamente até quase matá-lo, então parar. Trinta e nove chicotadas eram permitidas mas raramente necessárias. Um centurião monitorava o estado do prisioneiro. Sem dúvida Jesus estava próximo à morte quando suas mãos foram desamarradas e Ele caiu ao chão. Chicotear foi a primeira ação dos soldados.
A crucificação foi a terceira. (Eu não pulei a Segunda. Já vou chegar lá.) Embora suas costas estivessem machucadas pelas chicoteadas, os soldados colocaram a cruz sobre os ombros de Jesus e o fizeram carregá-la até o monte da crucificação, onde o executaram. Não culpamos os soldados por estes dois atos. Afinal, eles estavam apenas seguindo ordens. Mas difícil é compreender o que fizeram neste ínterim. Eis aqui a descrição de Mateus: “Então, soltou-lhes Barrabás e , tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado. E logo os soldados do governador, conduzindo Jesus à audiência, reuniram junto dele toda coorte. E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate. E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e, em sua mão direita, uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus! E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana e batiam-lhe com ela na cabeça. E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado.” (Mt 27.26-31) A obrigação dos soldados era simples: levar o Nazareno até o monte e matá-lo. Mas eles tinham outra idéia. Queriam se divertir primeiro. Fortes, descansados e armados, os soldados cercaram um carpinteiro galileu exausto e quase morto, e o atacaram. O açoite fora ordenado. A crucificação ordenada. Mas quem teria prazer em cuspir em um homem quase morto? O ato de cuspir não tem a finalidade de machucar o corpo, de forma alguma. O ato de cuspir é a intenção de degradação da alma, é muito eficiente. O que os soldados estavam fazendo? Não estariam eles elevando-se a si próprios à custa de outra pessoa? Eles sentiram-se grandes ao humilhar Jesus. Você já fez isso? Talvez nunca tenha cuspido em alguém, mas já fofocou? Caluniou? Você já levantou as mãos enfurecidas ou levantou os olhos com arrogância? Já colocou os faróis altos no retrovisor de algum carro? Já fez alguém se sentir mal para você se sentir bem? Foi isto que os soldados fizeram a Jesus. Quando você e eu fazemos o mesmo, fazemos isto com Jesus também. “E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40). A maneira como tratamos os outros é a mesma como tratamos a Jesus.
“Ei, Max, não gostei desta frase”, você protesta. Creia-me, não gosto de dizer isto. Mas precisamos enfrentar o fato de que há algo animalesco dentro de cada um de nós, que nos obriga a fazer coisas que surpreende até a nós mesmos. Você já não surpreendeu a si mesmo? Já parou para refletir sobre alguma atitude e pensou: “O que deu em mim?” A Bíblia possui uma resposta com seis letras para esta questão: P-E-C-A-D-O. Existe algo ruim, animalesco, dentro de cada um de nós. “Éramos por natureza filhos da ira” (Ef 2.3). Não é que não possamos fazer o bem. Podemos. O fato é que não conseguimos evitar fazer o mal. Em termos teológicos, somos “totalmente depravados”. Embora feitos à imagem e semelhança de Deus, temos caído. Somos corruptos ao máximo. O âmago de nosso ser é egoísta e perverso. Disse Davi: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Poderia alguém dentre nós dizer menos do que isto? Cada um de nós nasceu com tendência ao pecado. A depravação é condição universal. As Escrituras afirmam isto claramente:
“Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho...”(Is 53.6)
“Enganoso é o coração, mais dos que todas as coisas, e perverso, quem o conhecera?” (Jr 17.9)
“Não há um justo, nem um sequer...Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.10,23)
Há quem possa discordar com tais palavras fortes. Eles olham ao redor e dizem: “Comparado aos outros, sou uma pessoa decente”. Note que um porco pode dizer algo similar. Ele pode comparar-se com seus companheiros e dizer: “Estou tão limpo quanto todos os outros”. No entanto, quando comparado aos humanos, o porco precisa de ajuda. Comparados a Deus, nós, humanos, temos a mesma necessidade. O padrão de santidade não pode ser encontrado entre os porcos cochos da terra, mas no trono celestial. O próprio Deus é o padrão. Somos as feras. O ensaísta francês Michel de Montaige disse: “Não há homem tão bom que, ao submeter todos os seus pensamentos e atitudes às leis, não mereça ser enforcado dez vezes em sua vida”. Nossas atitudes são feias. Nossas ações escabrosas. Não fazemos o que queremos, não gostamos do que fazemos, e o pior, sim, há algo pior, não conseguimos mudar. Tentamos...ah, como tentamos. Mas “Pode o etíope mudar sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (Jr 13.23). O apóstolo concordou com o profeta: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, realmente não” (Rm 8.7)
Ainda concorda? Ainda acha minha avaliação muito dura? Em caso afirmativo, aceite este desafio. Durante as próximas vinte e quatro horas, viva uma vida sem pecado. Não estou pedindo uma década ou ano perfeito, nem mesmo um mês. Apenas um dia perfeito. Você consegue? Você consegue viver sem pecar durante um dia? Não? E uma hora? Você poderia prometer que nos próximos sessenta minutos terá apenas pensamentos e atitudes santas? Ainda hesitante? E quanto aos próximos cinco minutos? Cinco minutos sem preocupações, raiva e vida sem egoísmo, você consegue? Não? Nem eu.
Então temos um problema: Somos pecadores, e “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) Temos um problema: Não somos santos, e a Bíblia nos adverte a “Segui[r] a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14)
Temos um problema: Somos maus e “a obra do justo conduz à vida, as produções do ímpio, ao pecado” (Pv 10.16) O que podemos fazer? Permita que o cuspe dos soldados simbolizem a sujeira em seus corações. Então observe o que Jesus faz com esta sujeira. Ele a carregou até a cruz. Através do profeta Ele disse, “não escondo a face dos que me afrontam e me cospem” (Is 50.6). Misturado a seu sangue e suor estava a essência de nosso pecado. Deus poderia Ter julgado de outra forma. No plano de Deus, se foi oferecido vinagre para sua garganta, porque não uma toalha para o seu rosto? Simão carregou a cruz para Jesus, mas não limpou o seu suor. Os anjos estavam presentes. Eles não poderiam Ter desviado o cuspe?
Sim, mas Jesus nunca ordenou que eles o fizessem. Por algum motivo, aquEle que escolheu os cravos escolheu também a saliva. Junto com a lança e a esponja. Ele suportou a cuspidela do homem. Por quê? Seria por Ter Ele visto o lado bonito da fera?
Mas a correlação com a Bela e a Fera termina. Na fábula, a bela beija a fera. Na Bíblia, a Bela faz muito mais. Ela se torna fera para que a fera possa transformar-se em bela. Jesus muda de lugar conosco. Nós, assim como Adão, estávamos sob a maldição, mas “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gl 3.13).
E se a Bela não tivesse vindo? E se ela não tivesse se importado? Então teríamos continuado como feras. Mas a Bela veio, e ela se importou.
AquEle que é sem pecado tomou forma de pecador para que nós, pecadores, pudéssemos nos tornar santos.
O que teria acontecido à Fera se a Bela não tivesse aparecido? Você conhece a história. Houve um tempo em que seu rosto era bonito e seu palácio agradável. Mas isto foi antes da maldição, antes das trevas caírem sobre o castelo do príncipe. E, quando a escuridão tomou conta, ele sucumbiu. Recluso em seu castelo, rebelde, com um focinho reluzente e grandes caninos. Porém tudo mudou quando a mocinha chegou. Fico pensando, o que teria acontecido à Fera caso a Bela não tivesse aparecido? Melhor ainda, o que teria acontecido caso ela não tivesse se importado? Quem a teria culpado? Ele era tão... digamos, animalesco! Pêlos longos. Babão. Frustrado. E ela tão bela. Estonteante. Uma bondade contagiante. Se duas pessoas se encaixassem exatamente nesta descrição, não seriam elas exatamente a Bela e a Fera? Quem a teria culpado caso ela não tivesse se importado? Mas ela se importou. E, porque a Bela amou a Fera, A Fera tornou-se linda.
A história é familiar, não apenas por tratar-se de um conto de fadas. É familiar porque nos faz lembrar de nós mesmos. Há uma fera dentro de cada um de nós. Mas não foi sempre assim. Houve um tempo em que a face da humanidade era bela e o palácio agradável. Mas isto foi antes da maldição, antes das trevas caírem sobre o jardim de Adão. E, desde a maldição, temos sido diferentes. Animalescos. Feios. Rebeldes. Ferozes. Fazemos coisas que sabemos que não deveríamos ter feito e ficamos pensando por que as fizemos.
Minha parte feia certamente mostrou sua face animalesca certa noite. Eu estava dirigindo em uma pista dupla, que viria a tornar-se única. A mulher no carro ao lado do meu estava na pista que continuava. Eu estava na que terminava. Eu precisava estar à frente dela. Meus compromissos eram, sem dúvida, mais importantes que os dela. Além do mais, não sou eu importante? Não sou eu o mensageiro da compaixão. Um embaixador da paz? Assim, acelerei o carro. Adivinhe? Ela também. Quando minha pista terminou, ela estava um centímetro à minha frente. Aumentei os faróis, reduzi a velocidade e a deixei passar. Sobre seus ombros ela me acenou com um tchauzinho. Grrr. Comecei a diminuir os faróis. Então fiz uma pausa. Minha parte sinistra disse: “Espera ai.” Não fui chamado para ser luz nos lugares mais escuros? Iluminar as trevas? Então coloquei um pouco mais de luz em seu retrovisor. Só para importunar. Ela diminuiu a velocidade, em retaliação. Esta mulher era má. Para ela pouco importava se toda a cidade de San Antonio estivesse atrasada; ela não iria ultrapassar a marca dos vinte e cinco quilômetros por hora. E eu não iria tirar o farol alto do seu espelho retrovisor. Como dois burros teimosos, ela continuava devagar e eu continuava com a luz alta. Após mais pensamentos cruéis do que ouso confessar, a pista começou a alargar, então iniciei a ultrapassagem. Sabe o que aconteceu? O farol vermelho nos deixou lado a lado em um cruzamento. O que se segue contém boas e más notícias. A boa notícia é que ela acenou para mim. A má notícia é que não foi o tipo de gesto digno de imitação.
Algum tempo depois o pensamento me veio à tona: “Porque eu fiz isto?” Sou um cara tipicamente calmo, mas durante quinze minutos fui uma fera! Apenas dois fatos me confortaram: Primeiro, não tenho adesivo evangélico em meu carro, e segundo, o apóstolo Paulo passou por lutas similares. “Porque o que faço não aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço” (Rm 7.15). Você já se sentiu nesta situação? Em caso afirmativo, temos algo em comum. Paulo não é a única pessoa na Bíblia que travou uma luta com o lado animalesco interior. É raro encontrar uma página nas Escrituras em que um animal não mostre seus dentes. O rei Saul perseguiu o jovem Davi com sua lança. Siquém violentou Diná. Os irmãos de Diná (os filhos de Jacó) mataram Siquém e seus amigos. Ló negociou com Sodoma, depois saiu de lá. Herodes matou os primogênitos em Belém. Outro Herodes assassinou o primo de Jesus. Se a Bíblia é chamada de Bom livro, não é pelos seus personagens. O sangue corre livremente através das histórias como a tinta através das penas que as escreveram. Mas o lado mau da fera nunca esteve tão aflorado como no dia da morte de Cristo.
A princípio, os discípulos ficaram anestesiados, depois rapidamente fugiram.
Herodes queria um show. Pilatos queria livrar-se do problema. E os soldados? Eles queriam sangue.
Então açoitaram a Jesus. O chicote legendário consistia em tiras de couro com bolas de ferro em suas pontas. Seu objetivo era singular. Bater no acusado progressivamente até quase matá-lo, então parar. Trinta e nove chicotadas eram permitidas mas raramente necessárias. Um centurião monitorava o estado do prisioneiro. Sem dúvida Jesus estava próximo à morte quando suas mãos foram desamarradas e Ele caiu ao chão. Chicotear foi a primeira ação dos soldados.
A crucificação foi a terceira. (Eu não pulei a Segunda. Já vou chegar lá.) Embora suas costas estivessem machucadas pelas chicoteadas, os soldados colocaram a cruz sobre os ombros de Jesus e o fizeram carregá-la até o monte da crucificação, onde o executaram. Não culpamos os soldados por estes dois atos. Afinal, eles estavam apenas seguindo ordens. Mas difícil é compreender o que fizeram neste ínterim. Eis aqui a descrição de Mateus: “Então, soltou-lhes Barrabás e , tendo mandado açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado. E logo os soldados do governador, conduzindo Jesus à audiência, reuniram junto dele toda coorte. E, despindo-o, o cobriram com uma capa de escarlate. E, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e, em sua mão direita, uma cana; e, ajoelhando diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus! E, cuspindo nele, tiraram-lhe a cana e batiam-lhe com ela na cabeça. E, depois de o haverem escarnecido, tiraram-lhe a capa, vestiram-lhe as suas vestes e o levaram para ser crucificado.” (Mt 27.26-31) A obrigação dos soldados era simples: levar o Nazareno até o monte e matá-lo. Mas eles tinham outra idéia. Queriam se divertir primeiro. Fortes, descansados e armados, os soldados cercaram um carpinteiro galileu exausto e quase morto, e o atacaram. O açoite fora ordenado. A crucificação ordenada. Mas quem teria prazer em cuspir em um homem quase morto? O ato de cuspir não tem a finalidade de machucar o corpo, de forma alguma. O ato de cuspir é a intenção de degradação da alma, é muito eficiente. O que os soldados estavam fazendo? Não estariam eles elevando-se a si próprios à custa de outra pessoa? Eles sentiram-se grandes ao humilhar Jesus. Você já fez isso? Talvez nunca tenha cuspido em alguém, mas já fofocou? Caluniou? Você já levantou as mãos enfurecidas ou levantou os olhos com arrogância? Já colocou os faróis altos no retrovisor de algum carro? Já fez alguém se sentir mal para você se sentir bem? Foi isto que os soldados fizeram a Jesus. Quando você e eu fazemos o mesmo, fazemos isto com Jesus também. “E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que, quando o fizeste a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40). A maneira como tratamos os outros é a mesma como tratamos a Jesus.
“Ei, Max, não gostei desta frase”, você protesta. Creia-me, não gosto de dizer isto. Mas precisamos enfrentar o fato de que há algo animalesco dentro de cada um de nós, que nos obriga a fazer coisas que surpreende até a nós mesmos. Você já não surpreendeu a si mesmo? Já parou para refletir sobre alguma atitude e pensou: “O que deu em mim?” A Bíblia possui uma resposta com seis letras para esta questão: P-E-C-A-D-O. Existe algo ruim, animalesco, dentro de cada um de nós. “Éramos por natureza filhos da ira” (Ef 2.3). Não é que não possamos fazer o bem. Podemos. O fato é que não conseguimos evitar fazer o mal. Em termos teológicos, somos “totalmente depravados”. Embora feitos à imagem e semelhança de Deus, temos caído. Somos corruptos ao máximo. O âmago de nosso ser é egoísta e perverso. Disse Davi: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Poderia alguém dentre nós dizer menos do que isto? Cada um de nós nasceu com tendência ao pecado. A depravação é condição universal. As Escrituras afirmam isto claramente:
“Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho...”(Is 53.6)
“Enganoso é o coração, mais dos que todas as coisas, e perverso, quem o conhecera?” (Jr 17.9)
“Não há um justo, nem um sequer...Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.10,23)
Há quem possa discordar com tais palavras fortes. Eles olham ao redor e dizem: “Comparado aos outros, sou uma pessoa decente”. Note que um porco pode dizer algo similar. Ele pode comparar-se com seus companheiros e dizer: “Estou tão limpo quanto todos os outros”. No entanto, quando comparado aos humanos, o porco precisa de ajuda. Comparados a Deus, nós, humanos, temos a mesma necessidade. O padrão de santidade não pode ser encontrado entre os porcos cochos da terra, mas no trono celestial. O próprio Deus é o padrão. Somos as feras. O ensaísta francês Michel de Montaige disse: “Não há homem tão bom que, ao submeter todos os seus pensamentos e atitudes às leis, não mereça ser enforcado dez vezes em sua vida”. Nossas atitudes são feias. Nossas ações escabrosas. Não fazemos o que queremos, não gostamos do que fazemos, e o pior, sim, há algo pior, não conseguimos mudar. Tentamos...ah, como tentamos. Mas “Pode o etíope mudar sua pele ou o leopardo as suas manchas? Nesse caso também vós podereis fazer o bem, sendo ensinados a fazer o mal” (Jr 13.23). O apóstolo concordou com o profeta: “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, realmente não” (Rm 8.7)
Ainda concorda? Ainda acha minha avaliação muito dura? Em caso afirmativo, aceite este desafio. Durante as próximas vinte e quatro horas, viva uma vida sem pecado. Não estou pedindo uma década ou ano perfeito, nem mesmo um mês. Apenas um dia perfeito. Você consegue? Você consegue viver sem pecar durante um dia? Não? E uma hora? Você poderia prometer que nos próximos sessenta minutos terá apenas pensamentos e atitudes santas? Ainda hesitante? E quanto aos próximos cinco minutos? Cinco minutos sem preocupações, raiva e vida sem egoísmo, você consegue? Não? Nem eu.
Então temos um problema: Somos pecadores, e “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23) Temos um problema: Não somos santos, e a Bíblia nos adverte a “Segui[r] a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14)
Temos um problema: Somos maus e “a obra do justo conduz à vida, as produções do ímpio, ao pecado” (Pv 10.16) O que podemos fazer? Permita que o cuspe dos soldados simbolizem a sujeira em seus corações. Então observe o que Jesus faz com esta sujeira. Ele a carregou até a cruz. Através do profeta Ele disse, “não escondo a face dos que me afrontam e me cospem” (Is 50.6). Misturado a seu sangue e suor estava a essência de nosso pecado. Deus poderia Ter julgado de outra forma. No plano de Deus, se foi oferecido vinagre para sua garganta, porque não uma toalha para o seu rosto? Simão carregou a cruz para Jesus, mas não limpou o seu suor. Os anjos estavam presentes. Eles não poderiam Ter desviado o cuspe?
Sim, mas Jesus nunca ordenou que eles o fizessem. Por algum motivo, aquEle que escolheu os cravos escolheu também a saliva. Junto com a lança e a esponja. Ele suportou a cuspidela do homem. Por quê? Seria por Ter Ele visto o lado bonito da fera?
Mas a correlação com a Bela e a Fera termina. Na fábula, a bela beija a fera. Na Bíblia, a Bela faz muito mais. Ela se torna fera para que a fera possa transformar-se em bela. Jesus muda de lugar conosco. Nós, assim como Adão, estávamos sob a maldição, mas “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós” (Gl 3.13).
E se a Bela não tivesse vindo? E se ela não tivesse se importado? Então teríamos continuado como feras. Mas a Bela veio, e ela se importou.
AquEle que é sem pecado tomou forma de pecador para que nós, pecadores, pudéssemos nos tornar santos.
LIVRO : ELE ESCOLHEU OS CRAVOS – CAPÍTULO 2 – DE MAX LUCADO
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