quarta-feira, 13 de março de 2013

O dever de pregar o Evangelho


Por Arthur W Pink


Existem aqueles que representam erroneamente a doutrina da eleição desta maneira:

- "Aqui estou eu, sentado à mesa com minha família para o café. É uma noite fria de inverno e lá fora na rua estão alguns pobres mendigos famintos e crianças." 

Eles vêm, batem na porta e dizem:
- "Nós estamos com tanta fome Senhor. Oh, nós estamos com tanta fome e frio, estamos famintos, você não nos daria algo para comer?".
- "Dar à vocês algo para comer? Não! Vocês não pertencem a este lugar, saiam daqui".

Hoje em dia as pessoas dizem que isto é o que eleição significa. Deus serviu o banquete do evangelho e alguns pobres pecadores conscientes de sua profunda necessidade, vêm para Deus e dizem: "Tenha misericórdia de nós"; e o Senhor responde: "Não, vocês não estão entre os Meus eleitos".

Agora meus amigos, este não é o ensino da Escritura, nem sequer algo parecido com isso. Absolutamente, esta é uma falsa representação da verdade de Deus. Eu não acredito em nada semelhante meus amigos, e eu não os insultaria pedindo-lhes que viessem noite após noite para escutar algo similar a isto.

1. Compele-os a Entrar

Então agora, aqui está a verdade. Deus serviu o banquete, mas o fato é que ninguém está com fome, ninguém quer vir para o banquete e todos dão uma desculpa para se manterem longe do banquete. E quando eles são convidados a virem, eles dizem: "Não, nós não queremos" ou "Nós não estamos prontos ainda". Ora, Deus sabia disso desde o princípio, e se Deus não tivesse feito nada além de servir o banquete, cada cadeira à sua mesa ficaria vaga por toda eternidade!

Eu não tenho nenhuma hesitação em dizer que não há nenhum homem ou mulher nesta igreja hoje à noite, se não aqueles que deram desculpas, vez após vez, antes de se achegarem pela primeira vez a Cristo. Vocês são apenas como os outros. Vocês deram desculpas, assim como eu. E se Deus não tivesse feito nada além de servir o banquete, todas as cadeiras estariam vazias; por conta disto, o que vocês lêem na parábola de Lucas 14? Porque o banquete não estava cheio de convidados, Deus enviou Seus "servos". Oh, coloquem seus óculos. Não diz "servos", diz Deus enviou Seu "servo" e ordenou-Lhe que os "compelisse" a entrar, a fim de que Seu banquete estivesse cheio de convidados. Não existe nenhum homem ou mulher nesta igreja nesta noite, ou em nenhuma outra igreja, que algum dia se assentaria às bodas do Cordeiro, a não ser que tenha sido compelido a entrar - compelido por Deus.

Bem - você dirá - o que você quer dizer por "compelir"?

Eu quero dizer que Deus teve que subjugar a resistência da sua vontade. Deus teve que vencer a relutância de seu coração. Deus teve que sobrepujar seu amor pelos prazeres, os quais você amava mais do que a Deus, e seu amor pelas coisas deste mundo, as quais você amava mais do que a Cristo. Eu quero dizer que Deus teve que usar o Seu poder e trazer você.

Se qualquer um de vocês sabe alguma coisa de grego ou tem uma concordância Strong¹, observe o verbo no grego para "trazer" em João 6 verso 44: "Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia", isto significa "usar violência". Isto significa arrastar à força. Não existe um erudito em grego na face da terra, que possa contestar esta definição - no sentido de sustentá-la com provas. Essa é a mesma palavra do grego que é usada em João 21 quando eles arrastaram a rede para a praia quando cheia de peixes (v. 11). Eles tiveram de puxar com toda a força que tinham porque a rede estava cheia de peixes. Eles tiveram que arrastá-la, sim, meu amigo, e é assim que você foi trazido para Cristo.

Você pode não ter se conscientizado disto. Você pode não ter entendido dentro de si mesmo o que estava acontecendo. Mas cada um de nós era um rebelde contra Deus, lutando contra Cristo e resistindo a Seu Espírito Santo. Deus teve de aplicar força e derrotar esta resistência para trazer-nos aos nossos joelhos. E se qualquer um de vocês contestar esta forte linguagem, então eu estou aqui para te dizer que você não acredita no ensino da Escritura sobre a absoluta depravação do homem.

O homem está perdido, e o homem está morto em delitos e pecados, por natureza. Ouçam, não é simplesmente que o homem está doente e precisa de um pouco de medicamento. Não é simplesmente que o homem é ignorante e precisa de  um pouco de ensino. Não é simplesmente que o homem está fraco e precisa de um pouco de esperança. O homem está morto, morto em seus delitos e pecados, e somente um imenso poder vindo do céu, poderá ressuscitá-lo e trazê-lo da morte para a vida. Este é o evangelho em que eu creio, e eu não prego o evangelho porque eu creio que o pecador tem poder em si mesmo para responder à ele.

Bem - você dirá - então qual é a utilidade da pregação do evangelho se o homem está morto? Qual é a utilidade em pregá-lo?

Eu lhes contarei. Ouçam! Aqui estava um homem com uma mão mirrada, paralisada, e Cristo disse: "Estende a tua mão" - Lc 6v10. Esta era a única coisa que ele não poderia fazer! Cristo disse para ele fazer uma coisa que era impossível em si mesma.

Bem - então você dirá - por que Cristo falou para ele estender a mão?

Porque o poder divino acompanhou a própria palavra que ordenou-lhe fazer isto! Poder divino  tornou isso possível. O homem não poderia ter feito isto por si mesmo. Se você pensa que ele poderia, você está prestes a ir parar no hospício. Eu não me importo quem você seja. Qualquer homem ou mulher aqui, que pensa que este homem era capaz de esticar seu braço paralisado pelo esforço de sua própria vontade, está prestes a ir parar no hospício!

Como pode o paralítico mover-se?

Bem, eu lhes darei algo mais forte do que isto. Vocês precisam de algo forte hoje, vocês precisam mais do que um leite fraco. Vocês necessitam de um alimento forte, um alimento sólido, se de alguma forma vocês querem ser edificados, crescerem e se tornarem fortes no Senhor e na força de Seu poder.

Aqui está um homem que está morto e enterrado, seu corpo já está em decomposição de modo que está cheirando mal. Lá estava ele na sepultura e então alguém veio na entrada da cova e disse: "Lázaro, sai para fora" - Jo 11v43. Se aquela pessoa fosse qualquer outra a não ser o próprio Deus manifestado em carne, ela provavelmente estaria lá até agora chamando: "Sai para fora". Qual, na face da terra, seria a utilidade de falar para um homem morto vir para fora? Nenhuma, a não ser que Aquele que proferisse esta palavra, tivesse o poder para fazer dela uma palavra útil.

Neste momento então meus amigos, eu prego o evangelho para pecadores, não porque o pecador tem algum poder em si mesmo para responder. Até mesmo porque, eu não acredito que algum pecador tenha capacidade em si mesmo. Mas Cristo disse: "As palavras que eu lhes disse são espírito e vida" - Jo 6v63. Pela graça de Deus, eu vou adiante pregando esta Palavra, porque esta é uma palavra de poder, uma palavra do Espírito, uma palavra de vida. O poder não está no pecador, está na Palavra, quando Deus, o Espírito Santo, deseja usá-la. E meus amigos, eu lhes digo com toda a reverência, se Deus me falasse neste Livro para ir e pregar para árvores - Sim Senhor; eu iria!

Deus uma vez disse a um de seus servos para ir e pregar para ossos, e ele foi. Eu me pergunto se você teria ido! Sim, este ato teve uma aplicação local como também uma futura interpretação profética.

2. Pregue o Evangelho a Toda Criatura

Neste momento a questão surge novamente: Por que nós devemos pregar o evangelho para toda criatura, se Deus elegeu apenas um determinado número para ser salvo?

A razão é porque Deus nos ordenou que o fizesse. Bem - você dirá - mas isto não me parece sensato visto que não tenho nada a ver com isso. Sua obrigação é obedecer a Deus e não discutir com Ele. Deus nos ordenou que pregássemos o evangelho a toda criatura, isto significa o que diz - Toda criatura -  e isto é algo sério.

Cada cristão nesta sala hoje à noite, ainda terá que responder a Cristo, o porquê de não ter feito tudo o que estava ao seu alcance para transmitir este evangelho a toda criatura! Sim, eu acredito em missões - provavelmente mais do que a maioria de vocês - e se eu pregasse para vocês sobre missões, provavelmente eu os acertaria com mais força do que eu os acertei até aqui.

A grande maioria do povo de Deus que professa acreditar em missões, está apenas brincando. Eu ouso dizer de nossas denominações evangélicas de hoje em dia, que nós estamos apenas brincando de missões - essa é a verdade. Pense nisto, neste séc. XX, quando viajar é tão fácil e barato, existem bíblias impressas em quase todas as línguas debaixo do céu; por que meus amigos - enquanto nós estamos sentados aqui nesta noite - quase metade da raça humana, nunca ouviu falar de Cristo? E nós  teremos que responder a Cristo por isso também²!

Você terá que responder e eu também. Oh sim, eu acredito na responsabilidade do homem. Eu não acredito no “livre-arbítrio” do homem, mas eu acredito na responsabilidade humana, e na responsabilidade dos cristãos em dobro. Creio que cada um de nós nesta noite, terá de encarar Cristo e olhar para seus olhos como uma chama flamejante e Ele nos dirá: "Eu confiei a você Meu evangelho. Este lhe foi confiado como uma 'responsabilidade' - v. 1 Ts 2v4 - É exigido dos mordomos que cada um se encontre fiel.

Oh meus amigos, nós estamos brincando com as coisas. Nós não temos levado a religião a sério, nenhum de nós. Nós professamos acreditar na vinda de Cristo e professamos acreditar que a razão do porquê Cristo não voltou ainda, é porque Sua igreja, Seu corpo, ainda não está completo. Acreditamos que quando Seu corpo estiver completo Ele voltará. Meus amigos, Seu “corpo” nunca, nunca estará completo até que o último de Seus eleitos seja chamado, e Seus eleitos são chamados por meio da pregação do evangelho, pelo poder do Espírito Santo. Se você verdadeiramente anseia que Cristo volte logo, então você deveria estar mais atento às suas responsabilidades em relação a levar ou transmitir o evangelho aos pagãos!

A palavra de Cristo - e esta é a palavra de Cristo para nós - é “'Ide' por todo o mundo e pregai o evangelho”. Ele não diz: “Envie”. Ele diz: “Ide”. E você terá que responder a Cristo também, o porquê você não foi!

Bem - você dirá - você quer dizer que todos nós aqui, nesta noite, deveríamos ir para o campo missionário?

Eu não disse isso, eu não sou o juiz dos homens. Muitos de vocês aqui, nesta noite, tem uma boa razão que satisfará a Cristo do porquê vocês não foram. Ele lhes deu um trabalho para fazerem aqui. Ele os colocou em uma posição aqui. Ele os deu responsabilidades para serem executadas aqui. Mas cada cristão que é livre para ir, mas não vai, terá que responder à Cristo por isto também.

“Ide por todo o mundo”.

Bem - então você dirá - onde eu devo ir?
"Oh, isto é muito fácil".
"Você disse fácil?"
"Sim, eu quis dizer que é muito fácil!"

Nada é mais fácil no mundo do que saber onde você deve iniciar o trabalho missionário. Você tem esta resposta em Atos 1 verso 8: “Mas receberão poder quando o Espírito Santo descer sobre vocês, e serão minhas testemunhas em Jerusalém, - que é a cidade onde eles estavam - em toda a Judéia - que é o estado onde a cidade se encontrava - e Samaria, - que é o estado vizinho - e até os confins da terra".

Se vocês desejam começar o trabalho missionário, vocês precisam começar em sua cidade³. Meus amigos, se vocês não  estão interessados na salvação dos chineses em Sidney, então vocês realmente não estão interessados na salvação dos chineses na China. E estão apenas enganando a si mesmos se pensam estar! Oh, eu estou dando nome aos bois esta noite.

Se vocês estão aflitos com relação as almas dos chineses na China, então vocês estarão igualmente aflitos com relação aos chineses aqui em Sidney. E eu me pergunto quantos neste prédio hoje, já fizeram algum esforço real para alcançar a China em Sidney com o evangelho.

Então eu me pergunto... Eu me pergunto quantos aqui, nesta noite, tem ido à Casa da Bíblia em Sidney e dito ao gerente: "Você tem algum Novo Testamento em chinês?" ou, "Você tem alguns evangelhos de João em chinês?" "Quanto custa a dúzia? E o cento?" Eu me pergunto quantos de vocês compraram mil ou cem, e então foram até as casas do bairro chinês e disseram: "Meu amigo, este é um pequeno presente que fará bem a sua alma se você lê-lo".

Ah, meus amigos, nós estamos brincando de missões, isso não passa de uma farsa, isso sim!

"Ide" é a primeira ordem.
"Ir onde?"
"Àqueles ao meu redor."
"Ir com o quê?"
"O evangelho!"

Bem - você dirá - mas por que eu deveria ir?
"Porque Deus lhe ordenou!"

Bem - você dirá - qual é a utilidade de fazer isso se Ele escolheu apenas alguns?
"Porque o evangelho é o meio que Deus usa para chamar Seus próprios eleitos. Este é o porquê!"

Você não sabe, eu não sei, ninguém na terra sabe quais são os eleitos de Deus e quais não são. Eles estão espalhados pelo mundo, portanto nós devemos pregar o evangelho para toda criatura, para que o evangelho alcance aqueles que Deus selecionou entre suas criaturas.

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Por Arthur W Pink, em Novembro de 2012.
Traduzido por Thiago McHertt

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Uma palavra aos pais

Uma das mais infelizes e trágicas características de nossa civilização é a excessiva desobediência aos pais da parte dos filhos, quando menores, e a falta de reverência e respeito, quando grandes. Infelizmente, isto se evidencia de muitas maneiras, inclusive em famílias cristãs. Em nossas abundantes viagens nestes últimos trinta anos, fomos recebidos em muitos lares. A piedade e a beleza de alguns deles ainda permanecem em nossos corações como agradáveis e singelas recordações. Outros lares, porém, nos transmitiram as mais dolorosas impressões. Os filhos obstinados ou mimados não apenas trazem para si mesmos perpétua infelicidade, mas também causam desconforto para todos que se relacionam com eles e prenunciam coisas ruins para os dias vindouros. 

Na maioria dos casos, os filhos são menos culpados do que seus pais. A falta de honra aos pais, onde quer que a achemos, deve-se em grande medida aos pais afastarem-se do padrão das Escrituras. Atualmente, o pai imagina que cumpre suas obrigações ao fornecer alimento e vestuário para os filhos e, ocasionalmente, ao agir como um tipo de policial de moralidade. Com muita frequência, a mãe se contenta em desempenhar a função de uma criada doméstica, tornando-se escrava dos filhos, realizando várias tarefas que estes poderiam fazer, para deixá-los livres em atividades frívolas, ao invés de treiná-los a serem pessoas úteis. A consequência tem sido que o lar, o qual deveria ser, por causa de sua ordem, santidade e amor, uma miniatura do céu, degenerou-se em "um ponto de parada para o dia e um estacionamento para a noite", conforme alguém, sucintamente, afirmou.

Antes de esboçarmos os deveres dos pais em relação aos filhos, devemos ressaltar que eles não podem disciplinar adequadamente seus filhos, a menos que primeiramente tenham aprendido a governar a si mesmos. Como podem eles esperar que a obstinação de suas crianças sejam dominadas e controladas as manifestações de ira, se eles mesmos dão livre curso à seus próprios sentimentos. O caráter dos pais é amplamente reproduzido em seus descendentes. "Viveu Adão cento e trinta anos, e gerou um filho à sua semelhança, conforme a sua imagem" (Gn 5.3). Os pais devem, eles mesmos, viver em submissão a Deus, se desejam obediência da parte de seus filhos. Este princípio é enfatizado muitas e muitas vezes nas Escrituras. "Tu, pois, que ensinas a outrem, não te ensinas a ti mesmo?" (Rm 2.21). A respeito do pastor ou presbítero da igreja está escrito que ele tem de ser alguém "que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?)" (1 Tm 3.5). E, se um homem ou uma mulher não sabem como dominar seu próprio espírito (Pv 25.28), como poderão cuidar de seus filhos?

Deus confiou aos pais um solene e valoroso privilégio. Não exageramos ao afirmar que em suas mãos estão depositadas a esperança e a bênção ou a maldição e a ruína da próxima geração. Suas famílias são os berçários da Igreja e do Estado, e, de acordo com o que agora cultivam, tais serão os frutos que colherão posteriormente. Eles deveriam cumprir seu privilégio com bastante diligência e oração. Com certeza, Deus lhes pedirá contas referentes à maneira de criarem seus filhos, que a Ele pertencem, sendo-lhes confiados para receberem cuidado e preservação. A tarefa que Deus confiou aos pais não é fácil, em especial nestes dias excessivamente maus. Entretanto, poderão obter a graça de Deus, se a buscarem com sinceridade e confiança. As Escrituras nos fornecem as regras pelas quais devemos viver, as promessas das quais temos de nos apropriar e, precisamos acrescentar, as terríveis advertências, para que não realizemos essa tarefa de maneira leviana.

Instrua seu filho 

Queremos mencionar aqui quatro dos principais deveres confiados aos pais. Primeiro, instruir seus filhos. "Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te" (Dt 6.6-7). Este dever é sobremodo importante para ser transferido aos outros; Deus exige dos pais, e não dos professores da Escola Dominical, a responsabilidade de educarem seus filhos. Tampouco essa tarefa deve ser realizada de maneira esporádica ou ocasional, mas precisa receber constante atenção. O glorioso caráter de Deus, as exigências de sua lei, a excessiva malignidade do homem, o maravilhoso dom de seu Filho e a terrível condenação que será a recompensa de todos aqueles que O desprezam e rejeitam; estas coisas precisam ser apresentadas constantemente aos filhos. "Eles são pequenos demais para entendê-las" é o argumento de Satanás, visando impedir os pais de cumprirem seu dever.

"E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor" (Ef 6.4). Temos de observar que os "pais" são especificamente mencionados neste versículo, por duas razões: eles são os cabeças das famílias e o governo desta lhes foi confiado; os pais são inclinados a transferir sua responsabilidade às esposas. Essa instrução deve ser ministrada através da leitura da Bíblia e de explicar aos filhos as coisas adequadas à sua idade. Isto deveria ser acompanhado de ensinar-lhes um catecismo. Um constante falar aos mais novos não se mostra tão eficiente quanto a diversificação com perguntas e respostas. Se nossos filhos sabem que serão questionados após ou durante a leitura bíblica, ouvirão mais atentamente: fazer perguntas os ensina a pensarem por si mesmos. Este método também leva a memória a reter mais os ensinos, pois o responder perguntas definidas fixa ideias específicas em nossas mentes. Observe quantas vezes Jesus fez perguntas aos seus discípulos.

Seja um bom exemplo

Segundo, boas instruções precisam ser acompanhadas de bons exemplos. O ensino proveniente apenas dos lábios provavelmente será ineficaz. Os filhos são espertíssimos em detectar inconsistências e rejeitar a hipocrisia. Neste aspecto, os pais precisam humilhar-se diante de Deus, buscando todos os dias a graça que, desesperadamente, necessitam e somente Ele pode dar. Que cuidado eles precisam ter, para que diante de suas crianças não digam e façam coisas que tendem a corromper suas mentes ou produzam más consequências, se elas as imitarem! Os pais necessitam estar constantemente alertas contra aquilo que pode torná-los desprezíveis aos olhos daqueles que deveriam respeitá-los e honrá-los. Não apenas devem instruir seus filhos no caminho da santidade, mas eles mesmos devem andar neste caminho, mostrando por sua prática e conduta quão agradável e proveitoso é ser orientado pela lei de Deus.


No lar de pessoas crentes, o supremo alvo deve ser a piedade familiar, honrar a Deus em todas as ocasiões, e as outras coisas, subordinadas a este alvo. Quanto à vida familiar, nem o esposo nem a esposa deve transferir para o outro toda a responsabilidade pelo aspecto espiritual da vida da família. A mãe, com certeza, tem a incumbência de suplementar os esforços do pai, pois os filhos desfrutam mais de sua companhia. Se existe a tendência de os pais serem muito rígidos e severos, as mães são propensas a serem muito brandas e clementes; portanto, têm de vigiar mais contra qualquer coisa que enfraquecerá a autoridade do pai. Quando este proibir alguma coisa, ela não deve consenti-la às crianças. É admirável observar que a exortação dada em Efésios 6.4 é precedida por "Enchei-vos do Espírito" (Ef 5.18); enquanto a exortação correspondente em Colossenses 3.21 é precedida por "habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo" (v. 16), demonstrando que os pais não podem cumprir seus deveres, a menos que estejam cheios do Espírito Santo e da Palavra de Deus.

Discipline seu filho

Terceiro, a instrução e o exemplo precisam ser reforçados mediante a correção e a disciplina. Antes de tudo, isto implica no exercício de autoridade, a correta aplicação da lei divina. A respeito de Abraão, o pai dos fiéis, Deus afirmou: "Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito" (Gn 18.19). Pais crentes, meditem nestas palavras com cuidado. Abraão fez mais do que simplesmente dar conselhos: ele ensinou com vigor a lei de Deus e ordenou sua casa. As regras com que ele administrou seu lar tinham o objetivo de seus filhos guardarem "o caminho do SENHOR", aquilo que era correto aos olhos de Deus. Este dever foi cumprido pelo patriarca, a fim de que a bênção de Deus estivesse sobre sua família. Nenhuma família pode crescer adequadamente sem leis familiares, que incluem recompensas e castigos. Isto é especialmente importante na primeira infância, quando ainda o caráter moral não está formado e as crianças não apreciam ou entendem seus motivos morais. 

As regras devem ser simples, claras, lógicas e flexíveis, tais como os Dez Mandamentos, poucas, mas relevantes regras morais, ao invés de centenas de restrições insignificantes. Uma das maneiras de provocarmos desnecessariamente nossos filhos à ira é atrapalhá-los com muitas restrições insignificantes e regras detalhadas e arbitrárias, procedentes de pais perfeccionistas. É de vital importância para o bom futuro dos filhos que estes sejam trazidos em submissão desde cedo. Uma criança malcriada representa um adulto ímpio. Nossas prisões estão superlotadas com pessoas que tiveram a liberdade de seguirem seus próprios caminhos durante sua infância. A mais leve ofensa de uma criança quebrando as regras do lar não deve ficar sem a devida correção; pois, se ela achar clemência ao transgredir uma regra, esperará a mesma clemência em relação a outras ofensas, e sua desobediência se tornará mais frequente, até que os pais não tenham mais controle, exceto através do exercício de força brutal.

O ensino das Escrituras é claro quanto a este assunto. "A estultícia está ligada ao coração da criança, mas a vara da disciplina a afastará dela" (Pv 22.15; ver também 23.13-14). Por isso, Deus afirmou: "O que retém a vara aborrece a seu filho, mas o que o ama, cedo, o disciplina" (Pv 13.24). E, ainda: "Castiga a teu filho, enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de matá-lo" (Pv 19.18). Não permita que uma afeição insensata o impeça de cumprir seu dever. Com certeza, Deus ama seus filhos com um sentimento paternal mais profundo do que você ama seus filhos, mas Ele nos diz: "Eu repreendo e disciplino a quantos amo" (Ap 3.19; cf. Hb 12.6). "A vara e a disciplina dão sabedoria, mas a criança entregue a si mesma vem a envergonhar a sua mãe" (Pv 29.15). A severidade tem de ser utilizada nos primeiros anos de uma criança, antes que a idade e a obstinação endureçam-na contra o temor e a pungência da correção. Poupe a vara e você arruinará seu filho; não a utilize e terá de sofrer as consequências. 

É quase desnecessário salientar que as Escrituras citadas anteriormente não têm o propósito de incutirmos a ideia de que nosso lar deve ser caracterizado por um reino de terror. Os filhos podem ser governados e disciplinados de tal maneira, que não percam o respeito e as afeições por seus pais. Estejamos atentos para não estragarmos seus temperamentos, por fazermos exigências ilógicas, e provocá-los à ira, por castigá-los expressando nossa própria ira. O pai tem de punir um filho desobediente não porque ficou bravo, e sim porque é correto fazer isso, Deus o exige, bem como a rebeldia de seu filho. Nunca faça uma ameaça, se não tenciona cumpri-la. Lembre que estar bem informado é bom para seu filho, mas ser bem controlado é ainda melhor.

Esteja atento às inconscientes influências que cercam seu filho. Estude meios para tornar seu lar atraente, não pela utilização de recursos carnais e mundanos, mas por servir- se de ideais nobres, por incutir-lhes um espírito de altruísmo e desenvolver uma comunhão agradável e feliz. Não permita que seus filhos se associem a más companhias. Verifique cautelosamente as revistas e livros que entram em seu lar, observe os amigos que ocasionalmente seus filhos convidam para vir ao lar e as amizades que eles estabelecem. Antes mesmo de o reconhecerem, muitos pais permitem seus filhos relacionarem-se com pessoas que arruínam a autoridade paternal, transtornam seus ideais e semeiam frivolidade e pecado.

Ore por seus filhos

Quarto, o último e mais importante dever, no que se refere ao bem-estar físico e espiritual de seus filhos, é a intensa súplica a Deus em favor deles. Sem isto, todos os outros deveres são ineficazes. Os meios são inúteis, exceto quando o Senhor os abençoa. O trono da graça tem de ser fervorosamente buscado, para que sejam coroados de sucesso os nossos esforços em educar os filhos para a glória de Deus. É verdade que precisa haver uma humilde submissão à soberana vontade de Deus, um prostrar-se ante a verdade da eleição. Por outro lado, o privilégio da fé consiste em apropriar-se das promessas divinas e em recordar que a ardente e eficaz oração de um justo produz muitos resultados. A Bíblia nos diz que o piedoso Jó "chamava...a seus filhos e os santificava; levantava-se de madrugada e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles" (Jó 1.5). Uma atmosfera de oração deve permear o lar e ser respirada por todos os que dele compartilham.


Arthur W. Pink (1886-1952) foi um dos autores evangélicos mais influentes da segunda metade do século XX. Erudito bíblico de persuasão reformada e puritana, Pink escreveu várias obras literárias e pastoreou diversas igrejas nos EUA, além de ter servido como ministro na Inglaterra e Austrália.  

Fonte: http://bereianos.blogspot.com.br/2012/08/uma-palavra-aos-pais.html#.UUBihhzL3Io